Não me lembro de ter lido um livro sobre viagens no tempo - bem, não contado com os mundos paralelos da Rebecca Serle -, mas foi a sugestão de junho do The Characters Club e eu decidi aceitar o desafio.
“The Psychology of Time Travel” conta a história de quatro mulheres cientistas que trabalham para criar a possibilidade de viajar no tempo. No dia da apresentação do projeto à imprensa, depois de ter viajado sozinha no tempo, a Bee tem um esgotamento e compromete o projeto. De forma a tentar limpar a imagem que o surto de Bee causou, esta é afastada e internada numa clínica de psiquiatria.
A condição psicológica da Bee abre um precedente para as várias referências que vão sendo feitas à saúde mental, desde ansiedade, privação de sono, depressão e paranóia. De facto, antes de qualquer funcionário ser contratado, todos têm que passar por uma série de testes e desafios, de forma a acessar se têm ou são suscetíveis de ter problemas mentais. Depois do que aconteceu com a Bee, as outras cientistas não podiam correr o risco que o projeto para que tanto trabalharam fosse cancelado…
As viagens no tempo, no entanto, levantam questões que mesmo as pessoas mais sãs podem ter dificuldade em lidar: se viajam no futuro e percebem que naquela data a vossa família já faleceu; como reagem quando encontram o vosso silver-self (eu mais velho) ou o green-self (o vosso eu mais novo); se percebem que em determinado ano acontecerá uma guerra; ou se sabem que vão casar com determinada pessoa, mas não é o vosso namorado atual,... São várias as situações que podem ocorrer quando se viaja no tempo, pelo que dentro do Conclave (organização), tudo é bastante controlado e analisado para que não existam escândalos. Acima de tudo, não podem haver escândalos, e a Margaret assegurar-se-á disso.
Para além das viagens do tempo, existem muitas personagens com relações familiares entre si, pelo que até tive que fazer um pequeno esquema com todas para ter a certeza que não me escapava nada. Isto porque vamos acompanhando as personagens ao longo de vários anos - a Bee torna-se uma avó fofa; a Margaret a líder do Conclave; a Grace um mistério que deixo para vocês descobrirem e a Lucille, infelizmente, é muito pouco referenciada.
Por motivos que são explicados mais tarde no livro, a filha da Barbara (Bee) detesta falar sobre viagens no tempo, pelo que a Ruby, a sua neta, pouco ou nada sabe sobre esta fase da vida da avó. Até que um dia chega uma mensagem do futuro e as duas começam a discutir como era a Bee cientista e o que realmente esta fazia antes de ser afastada do Conclave.
E depois surge a Odette, uma mulher que encontra o corpo de uma idosa quando chega ao seu local de trabalho. E o que é que a Odette tem que ver com as outras mulheres? O Conclave. É que ela fica tão obcecada por saber de quem era aquele corpo e de como ele foi ali parar que decide ela própria virar uma viajante no tempo para tentar desvendar aquele mistério.
Através de mudanças de saltos no tempo e diferentes personagens desvendamos o mistério do corpo assassinado, percebemos como aconteceu o crime e o que levou a que este acontecesse. Um mistério com várias camadas, personagens interessantes e excelentes reflexões sobre saúde mental. Não existe suspense ou um grande mistério na verdade, é tudo bastante previsível, mas ainda assim, uma boa leitura.
* Próximos parágrafos com spoilers*
Pensamentos que tive ao ler o livro:
A Grace poder viajar no tempo e ir para uma época em que pode ser verdadeiramente quem é, apaixonar-se por outra mulher e casar é maravilhoso e triste ao mesmo tempo (não o poder fazer no seu tempo real).
A inovação científica ser liderada por mulheres é incrível - girl power!!
A Margaret ter uma personalidade normalmente associada a homens no poder também é bastante interessante. E fico contente que no final ela não tenha “metido a mão na consciência” ou mostrado um lado soft que até então não tinha.
O fim da Margaret estar, entre outros fatores, associado ao amor de mãe, coisa que ela não compreendia, faz-me lembrar o Harry e a Lily Potter.
Pontos fortes: debate sobre saúde mental; mulheres na ciência; personagens com personalidades diversas e bastante vincadas.
Pontos fracos: não há um verdadeiro suspense ou mistério; são mesmo muitas personagens, pelo que pode ser confuso.
Trigger warnings: várias questões de saúde mental.
Pontuação final: 3/5
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