Sem saber bem como, chegam os 25.
Os 25 que imaginei quando tinha 5 são diferentes destes. Os que sonhei quando tinha 15 também. É normal. Eu mudei, aquilo que quero mudou, os meus sonhos mudaram. De facto, eu mudei muito - ou nada.
Quando era pequenina não tinha medos, era desenrascada, pegava em bichos e mexia na terra, atirava-me para o fundo da piscina e nadava pelo meio das pernas da minha avó, decorava todos os recados da escolinha e corria para os meus cães assim que chegava a casa. Mas isso mudou.
Ao crescer, comecei a preocupar-me com coisas que nunca me tinham passado pela cabeça. Muitas dessas questões vieram de opiniões alheias, coisas que vamos ouvindo e ficam gravadas - curioso como gravamos mais facilmente aquilo que é mau.
A adolescência tirou-me a voz, a força, a vontade (esta talvez seja culpa da Blimunda?). Aprendi o que era a ansiedade e a depressão, cruzei-me com transtornos alimentares , senti a traição e a mentira naquilo que se diz amor, conheci a forma como amigos se afastam, vivi com a pressão auto imposta que leva a ataques de pânico. Desengane-se quem ache que a minha adolescência foi passada num quarto escuro quando descrevo isto. O “quarto escuro” existia por dentro, mas festas, praia, tardes de cinema, saídas à noite, piscina, viagens - ou seja, aquilo que vemos os adolescentes a fazer nos filmes - faziam parte da minha vida.
Depois veio a universidade e tudo mudou. Foi como se uma nova oportunidade me tivessem dado. “Ok, Sara, agora vai e sê tu”. E eu fui. Sem os dramas do secundário, sem os preconceitos que existiam sobre quem era, sem as disciplinas que eu detestava. Um novo ambiente, novas pessoas, novo ar. Claro que também tive desafios e coisas menos boas. Mas a verdade é que a universidade me deu um novo começo e lembrou-me de quem eu era.
Não deixei de ter medos nem de sentir pressão, não disse adeus à ansiedade nem “levo tudo à frente”, não passei a fazer tudo o que me dá na cabeça nem sinto que tenho a vida resolvida. Mas voltei a pegar em bichos e a correr para os meus cães, voltei a levantar a voz para o que acredito e a ter vontade de fazer planos, voltei a fazer coisas que gosto e a validar aquilo que sinto. Pouquinho a pouquinho, vou-me encontrando.
A minha vida ainda não está como eu gostaria. Mas ao contrário da Sara de 5 e da Sara de 15, hoje não sonho com a minha vida daqui a 10 anos. Sonho com a vida da Sara de 25, aquela que começa hoje.
Comments