Sou mulher, sou feminista. Para mim é lógico que o seja, e fico sempre admirada quando uma mulher não se diz feminista. Afinal, feminismo é apenas e só a crença que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, seja a nível social, económico ou político.
Muitas pessoas têm medo da palavra, acham que é uma ideia radical, que feministas são mulheres que odeiam homens, que quem se diz feminista não faz a depilação ou é um bocado “maria rapaz”. Estes são alguns dos disparates que já ouvi. Quando na verdade, feminismo é igualdade.
Ah, mas então não deveria de se chamar igualitarismo?
Não sejam chatos. Como é óbvio, a igualdade é o princípio-chave do feminismo, no entanto, como se foca especificamente na igualdade de género, chama-se feminismo (que vem do latim feminina, e remete para o género que historicamente é mais discriminado).
Ok, então se feminismo é a igualdade de direitos, não deveríamos todos ser feministas?
Claro! O feminismo não é um movimento exclusivo de mulheres. De facto, é extremamente importante que homens e pessoas que se identificam com outros géneros falem e defendam este movimento.
Ah, então devemos todos ir para as marchas?
Podemos ir, sim. Mas o que é realmente importante é como agimos no nosso dia-a-dia, se tratamos as pessoas da mesma forma e lhes damos as mesmas oportunidades. Por exemplo: se pessoas com as mesmas classificações a concorrer ao mesmo emprego vão ter a mesma oportunidade e o mesmo salário; se é esperado que um homem e uma mulher façam as tarefas de casa; se vamos descredibilizar uma mulher pela forma como ela se veste ou se maquilha; se consideramos que quando um homem denuncia uma injustiça no trabalho é um bom trabalhador e, quando uma mulher faz o mesmo, é uma histérica exagerada.
Já percebi. Se eu enquanto homem me assumo feminista, não vou ser visto como “menos homem”?
Infelizmente, a sociedade portuguesa ainda tem um longo caminho a percorrer no que respeita à masculinidade tóxica. Ideias como os homens não choram, não dão carinhos aos filhos, não devem gostar de musicais e comédias românticas, o papel do homem é trabalhar e não arrumar a casa ainda estão muito vincadas. Mas são um valente monte de merda. Os homens podem gostar do que quiserem, devem demonstrar as suas emoções, e têm que trabalhar em casa também - não, não é ajudar. Ele não vive em casa? Então é tanto a obrigação dele como da mulher. Um homem que não se admita feminista é um homem que 1) não sabe o que é; 2) tem vergonha, pois não consegue quebrar a barreira tóxica em que cresceu; 3) é palerma.
Palerma? E se simplesmente não acreditar na igualdade, independentemente da sua formação/religião/sociedade em que cresceu?
A maioria das pessoas que se dizem contra o feminismo não sabe o que ele significa. Percebo que em alguns casos seja complicado olhar para fora da bolha em que se cresce, mas numa sociedade ocidental como a nossa, onde temos acesso a todas as informações, se fala e comemora o 8 de março e temos acesso às consequências da misoginia (violência doméstica, espancamentos, violações,...), quem não acredita na igualdade de género é, na falta de melhor palavra, ignorante.
Como é óbvio, eu falo de um local de privilégio. Tive a sorte de nascer num país e numa época em que tenho o direito a estudar, onde posso conduzir, posso votar, posso ter uma opinião e afirmá-la, posso casar com quem quiser ou não casar de todo, posso ter um emprego ou ficar em casa, posso ter ou não ter filhos, posso viajar sem a autorização de ninguém. Sim, este é um lugar de privilégio, pois ainda há mulheres em situação de risco por todo o mundo, mulheres cujos direitos são suprimidos e vontades não podem existir. Este é um lugar de privilégio para mim, enquanto mulher. Mas se eu fosse um homem, não seria um privilégio, seria uma garantia desde o momento em que nascesse.
E é por isso que ainda precisamos do Dia da Mulher, um dia que nos lembra que já conseguimos muito, mas a muitas de nós ainda falta tanto. E enquanto escrevo isto apercebo-me que eu não tenho que olhar para aquilo que posso fazer como um privilégio, pois simplesmente é um direito humano: a liberdade. E o meu desejo é que todas nós, um dia, tenhamos a sorte de ser livres.
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