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Dear diary, precisamos de tempo para sentir

Já pensaste no mundo alucinado em que vivemos? Todos os dias notícias chegam-nos de uma nova guerra, de um novo conflito, de um novo imposto. Tudo muda muito rápido, tudo parece que acontece ao mesmo tempo. Quando resolvemos um assunto, depressa nos aparece outro em mãos. Parece que não temos tempo para nada e acabamos por andar aqui meio atrapalhados, meio sem saber o que fazer. Simplesmente vamos fazendo as coisas e quando olhamos para o relógio, passou um mês. Ah, e se não estiverem assim tão atrapalhados, a vossa cabecinha inventa alguma coisa - a minha inventa. Inventa tanto que nem me deixa dormir.

Mas se o tempo é importante para que façamos as coisas com sentido e para que estejamos realmente presentes, é ainda mais importante para sentir. Para quem não gosta de refletir sobre o que sente, não ter tempo para isso é ótimo; mas a verdade é que todos precisamos de sentir e aprender a reconhecer as nossas emoções e o que as despoleta, porque chega um dia e elas rebentam em todas as direções.

“Não chores.” “Não te zangues.” “Não fiques triste.” “Não rias tão alto.” Quantas vezes vos disseram isso ao crescer? Quantas vezes disseram vocês isso? Quantas vezes tentamos nós não chorar, não nos zangar, não ficar triste ou não rir tão alto quanto queríamos porque “é errado”, “é fazer cenas”.

A minha psicóloga disse-me que eu não nunca saberia se era feliz se não soubesse o que era a tristeza, que para reconhecer um, tinha que conhecer o seu oposto. Eu era pessoa do cinzento: tentava não sentir nem muito nem pouco; não me permitia chorar com filmes ou rir-me muito se alguma coisa tivesse mesmo piada; ficava ali, no cinzento, na área onde se sente pela metade. E verdade seja dita, se há coisa que eu sou é sensível, pelo que só estava a ir contra aquilo que eu sou, contra a minha natureza. Reconheci que retrair os meus sentimentos não me ia trazer nada de bom a longo prazo, e por isso, saí do cinzento. Agora, permito-me chorar se me emocionar com um filme ou uma entrevista, permito-me estar triste e entender que existem esses momentos e permito-me rir às gargalhadas.

Mas e tempo? Temos tempo para sentir, para nos conectarmos profundamente com os nossos pensamentos ao ponto de formarmos uma emoção? Damo-nos liberdade para ter um dia mau ou para responder ao outro que não estamos muito bem quando a pergunta nos é feita? Às vezes não nos dá jeito estar tristes, temos coisas para fazer e não dá muito jeito estar a sentir aquilo agora. Por isso, pomos de lado. Até termos tempo para “pegar” nesses sentimentos. Mas a verdade é que esse tempo não chega, porque mais coisas aparecem e temos que continuar a fazê-las. E, quando um dia mais tarde, nos lembramos que temos aqueles sentimentos guardados, já eles cresceram e tomaram outra forma - como uma hera que é esquecida e acaba por cobrir as paredes da casa.

É importante que nos demos tempo para pensar e refletir sobre o que sentimos, seja através de journaling, de terapia, conversando com amigos ou meditando. Lidar e exprimir o que sentimos é importante para nos conhecermos melhor, para crescermos enquanto seres humanos e para também conseguirmos ser mais empáticos para com os outros. É preciso tempo para sentir.


Deixo-vos o livro “Almond” como sugestão sobre o tema. Podem ler sobre a história de um menino que, por ter as amígdalas cerebelosas tão pequenas, não conseguia sentir.

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