Ouvi pela primeira vez a Rita no podcast que tem com o Guilherme, “Terapia de Casal”; seguiu-se o “Livra-te” e também o espetáculo que fez ao vivo em Braga. Sei, pelas suas recomendações de livros e pelas autoras que lhe são mais queridas, que eu e a Rita não gostamos do mesmo tipo de livros - ela gosta de sentimentos profundos e de explorar a tristeza; eu gosto de histórias felizes e reviravoltas surpreendentes. E - ou “mas” - sabendo isso, decidi que “As Coisas que Faltam” tinha que fazer parte dos meus livros de Abril.
Este não é um livro feliz ou surpreendente. “As Coisas que Faltam” é triste, cheio de mágoa e amargura, chegando mesmo a ser revoltante. Acredito que é um livro que ganha muito com a dedicatória e com os agradecimentos que a Rita faz, já que nos ajuda a perceber o porquê dela contar esta história. De facto, sinto-o quase como uma descarga emocional, uma sessão de terapia e uma resposta da autora aos seus “e se…”.
A protagonista do livro, a Ana Luís, faz-me querer abaná-la e gritar “Fala. Diz o que sentes. Não guardes para ti”. Como este é um livro imersivo, passamos todo o tempo na cabeça da Ana Luís e como ela guarda tudo para ela, sentimos que também nós estamos a guardar todos aqueles sentimentos e emoções. O meu maior pet peeve, como já disse várias vezes, são personagens que não se conseguem expressar e que não têm boas capacidades de comunicação, que se deixam levar pela corrente e não vincam a sua vontade - pois bem, acabei de descrever a Ana Luís.
Também vejo a protagonista como alguém inseguro, que apoia a sua felicidade na ideia de uma pessoa que tem idealizado ao longo da sua vida. Mas quando essa fantasia não corresponde à realidade, ela não quer acreditar, uma vez que aquela era a única solução para mudar a sua vida - pelo menos, ela acha que sim.
Se por uma lado quero abanar a Ana Luís para que acorde do seu transe e fale, por outro quero abraçá-la e confortá-la devido à sua relação com a mãe. Na verdade, com quase todas as outras pessoas. A Ana Luís cresce na filosofia “Deus dará”, não cuidam dela com carinho e atenção; não a guiam e apoiam na sua adolescência; e por isso, torna-se uma adulta distante e que agarra cada réstia de amor que lhe demonstrem, mesmo quando este não é saudável.
Como referi, este livro passa-se muito na cabeça da sua protagonista, não existem muitos diálogos ou interações, sendo que pode ser fácil algumas pessoas se sentirem bastante ligadas à Ana Luís - infelizmente, não foi o meu caso. Ainda assim, não sinto que deva recomendar este livro a qualquer pessoa: leiam se querem uma história dura e triste, desenhada por uma escrita simples e bonita; leiam se querem entrar na cabeça de uma personagem e vivenciar toda a tristeza que ela vive; leiam se querem descobrir a versão autora da Rita da Nova.
Sobre a história:
Ana Luís nunca conheceu o pai. Viveu com os avós maternos e a mãe no Norte no início da sua vida, e depois mudou-se para Lisboa com a mãe. Em nenhum sítio teve um pai. Aos oito anos, perguntou à mãe se podia conhecer o seu pai, já que todas as suas colegas de escola tinham um; ela disse que não. Ao longo dos anos, foi tentado imaginar o homem que seria o seu pai, e como ele seria o seu salvador. Ana Luís e a mãe não tinham uma relação de afeto e carinho, pelo que ela ansiava pela vinda daquela figura que a completaria.
Mas nem tudo o que imaginamos acontece e ”As Coisas que Faltam” mostra-nos isso. Acompanhamos a Ana Luís até se tornar adulta, o seu primeiro amor, o seu primeiro emprego, a sua primeira casa sem a mãe´. Percebemos como durante todos aqueles anos, a protagonista sente que falta algo, como a sua peça perdida nunca é preenchida. Até que coisas de um passado anterior a ela surgem.
Pontos fortes: história diferente; a dedicatória e os agradecimentos; escrita bonita, com vários recursos a metáforas
Pontes fracos: livro flat (sem surpresas ou reviravoltas); aura de tristeza constante; tem o meu pet peeve - faltas de comunicação.
Frase favorita: “Apercebi-me também que não tinha imaginado as respostas do Raul com a voz dele, mas isso, claro, porque as coisas que pensamos, por mais que as pensemos, têm só uma voz - a nossa”
Pontuação final: 3.5/5
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