top of page
Buscar

Moda sustentável: 2- Comprar

Penso que existe um mito associado à moda sustentável que se prende com o não comprar roupa. “Se queres ser sustentável, só podes usar o que tens”, para além disto não ser verdade também desencoraja imenso quem efetivamente gosta de moda a seguir uma ética de compra mais benéfica para o planeta.


De facto, não temos que deixar de comprar roupa para sermos mais sustentáveis. Devemos, sim, repensar a forma como o fazemos. Precisamos mesmo de 5 pares de calças pretas? Vamos usar várias vezes esta bolsa rosa ou só a queremos por ser tendência? A consciência com que fazemos as nossas compras é que vai ditar a sustentabilidade do nosso consumo.


Acredito que, crescendo numa cultura que valoriza o consumismo, onde vemos vídeos de hauls com peças e peças de roupa, onde nos fazem crer que precisamos de algo novo para levar a cada novo compromisso social, vamos ser influenciados a comprar novas peças pelo simples querer. O impulso de comprar é algo que pessoalmente me leva a fazer compras que talvez não sejam as mais sustentáveis, seja por não precisar ou pela quantidade de vezes que lhes darei uso.


Isso quer dizer que nunca mais posso entrar na Zara e comprar algo que goste? Não. Acredito que temos que começar por algum lado, seja esse lado comprar em segunda-mão, apostar em marcas portuguesas ou apostar num armário cápsula, mas também sei que a transição de comprar roupa todos os meses num shopping para raramente o fazer pode ser desafiante.


Então, por onde começar?

Perceber o que temos no nosso armário. Passar por toda a nossa roupa, ver o que serve, o que usamos efetivamente, e separar aquela que já não nos serve.

Pode parecer a coisa mais simples do mundo, mas a verdade é que todos acabamos por acumular coisas que já não são o nosso estilo, nos servem ou gostamos. Se tentarmos conjugar as nossas peças entre elas percebemos que conseguimos fazer muitos outfits com as mesmas peças. Efetivamente passar por toda a nossa roupa e calçado ajuda-nos a compreender que talvez não precisemos mesmo de ir ao shopping todas as semanas.


O que devo procurar quando comprar?

  • Peças que vão de encontro ao nosso estilo e não comprar apenas porque são tendência;

  • Verificar a etiqueta da peça para perceber onde ela foi confecionada. Devemos procurar comprar peças feitas em Portugal ou na União Europeia, já que nestes países existem leis que visam que os trabalhadores sejam pagos salários justos e que tenham boas condições de trabalho.

  • Na linha da anterior, apostar em marcas portuguesas que produzam em Portugal, pode ser uma boa forma de apoiar a economia do país e “dar a ganhar cá dentro”.

  • Identificar o material da peça, dando preferência a matérias-primas naturais (como o algodão, a lã e a sede) ou biodegradáveis e recicláveis. Fibras sintéticas como viscose ou poliéster precisam de muitos produtos químicos, que poluem o planeta.

  • Peças em segunda-mão, uma vez que ajudam na diminuição de desperdício.


Ser caro ou não ser

Uma coisa ser cara ou não ser vai obviamente depender do tipo de carteira. Em geral, existe a noção que roupa de marcas portuguesas é cara, uma vez que os nomes mais conhecidos têm peças na casa dos 100 euros. Eu concordo com esta assunção, já que normalmente não dou 100 euros por uma peça. Mas agora, pergunto-vos, não gastam 100 euros na Zara? Três/quatro peças na Zara perfazem o mesmo valor. Ah, mas são 4 peças, não 1. Certo, mas nós PRECISAMOS de 4 novas peças? Talvez sim, talvez não. Vai depender da qualidade das peças que já temos.

Ora,

  • Eu compro uma boa camisola de lã com cashmere que me dura 5 anos e custa 75 euros.

OU

  • Eu compro uma nova camisola de poliéster todos os anos - pois vai ficando larga e perdendo qualidade após cada lavagem -, que me custa 25 euros. Em 5 anos, eu gastei 125 euros.


Quando começamos a fazer estas contas, percebemos que talvez compense gastar mais uma vez do que menos muitas vezes. Eu tenho esta regra com malas e carteiras há anos e sem dúvida que resulta. A chave é comprar algo que seja intemporal e que vá de encontro ao nosso estilo para gostarmos disso durante muitos anos. Ainda assim, sugiro que aproveitem os saldos para comprar essas peças mais dispendiosas, pois existe sempre alguma poupança.


Se gostam mesmo de comprar várias peças de roupa, sugiro que o façam recorrendo a peças sem segunda-mão, já que podem poupar, é mais fácil encontrar peças únicas, e estão a dar casa a peça que talvez tivessem os aterros de roupa como fim. Existem vários mitos ainda no que respeita à segunda-mão, pelo que farei um post mais à frente sobre isto.


Sermos mais conscientes na nossa forma de comprar é um compromisso que deveríamos ter enquanto membros de uma sociedade. Todos sabemos que os recursos deste planeta são limitados, ainda assim, tendemos a não querer entender a importância que o papel de cada um tem, o quanto os nossos hábitos impactam o mundo. A moda sustentável é uma vertente de muitas no que respeita ao nosso papel enquanto habitantes da Terra, um papel que deve ser consciente e responsável, mesmo em algo tão simples como ir às compras.


Vejam o post anterior desta série sobre moda sustentável aqui.

bottom of page