Sendo um título bastante popular e existindo a adaptação a filme com a maravilhosa Julia Roberts, “Comer, orar, amar” estava na minha lista de livros que queria ler há bastante tempo. Decidi que seria uma boa aposta para ler no início do ano, devido ao ser carácter inspiracional.
Não sei se sabem, mas este livro é inspirado na vida da autora, Elizabeth Gilbert, que decidiu embarcar numa viagem de um ano, num período em que se sentia perdida e sem motivação. Por esta razão, a escrita é muito próxima e simples, quase como se estivéssemos a ouvir alguém falar e pensar.
A minha parte favorita do livro foi a viagem a Itália. Senti que me revia mais com a Elizabeth nessa fase em que procurava o prazer nas coisas pequenas, em que desfrutava dos seus passeios e das pastas, ainda que continuasse a ter a cabeça num turbilhão.
A sua estadia na índia foi um pouco aborrecida de ler, já que se baseava mais em reflexões e pensamentos da autora, existindo poucos diálogos e interações. Percebo a importância que ela dá à sua descoberta da fé e ao contacto com Deus*, mas é precisamente isso, a SUA descoberta. Pode ser uma parte que nos faz questionar a nossa própria espiritualidade e talvez alargar horizontes a quem só vê uma alternativa de fé como correta. Pessoalmente, no entanto, levou-me a sítios onde ainda não estou – isto é: A Elizabeth tirou quatro meses para se focar na sua espiritualidade e conseguiu o contacto que tanto pretendia, mas eu, não sendo uma pessoa religiosa e questionando-me sobre fé várias vezes, senti que fui arrastada para um ponto mais à frente daquele em que estou na minha própria caminhada de descoberta espiritual.
A Indonésia trouxe o amor para a Liz, mas, muito honestamente, não foi o que mais gostei. Considero que a história da Waya e da Tutti é mais interessante e realmente diferente daquilo a que estamos habituados no ocidente, pelo que enriqueceu mais a leitura. O gesto que a Elizabeth teve para com elas foi bastante comovente, e o rumo que isso estava a tomar foi bastante surpreendente – eu sei que fiquei de sobrolho levantado.
Entre o livro e o filme, quase recomendei o filme (mais direto e tem a Julia Roberts), mas depois reparei que eles acrescentam e alteram coisas que não aconteceram, pelo que tenho de sugerir o livro.
Muita gente critica este livro por várias razões que vão desde a Elizabeth ser muito focada em si, por dizer que se quer afastar de homens e só conseguir pensar neles, por exagerar na tragédia que foi o fim do seu divórcio ou por ela ter ido sequer viajar. Bem, essas pessoas claramente não dão a importância devida à saúde mental. Numa depressão como estava a Liz, é importante que se encontrem estratégias para sair dessa situação, se ela tinha a possibilidade de ir viajar e se achava que isso ia ajudar, fez muito bem em ir; se ela considerava o fim do seu casamento uma tragédia, é porque era, já que cada realidade é diferente e a dela foi claramente afetada por este fim; e sim, este livro é focado nela, mas ela está a contar a sua história e jornada de descoberta e cura. As pessoas têm que parar de achar que isso é egoísmo e aprender que parar para refletir no que sentimos e pensamos, é importante para a nossa saúde mental.
No geral, gostei do livro. Não me sinto uma pessoa mais iluminada ou particularmente inspirada depois de o ler – já li melhores para essa vertente -, mas é uma boa história.
Sobre a história:
Depois de um divórcio difícil e de uma relação tóxica, mas impossível de terminar, Elizabeth decide embarcar numa viagem de um ano (3 países, 4 meses em cada), para se afastar de toda a situação.
Começa por ir para Itália, pois sempre quis aprender a falar italiano. Nos quatro meses em que lá vive, descobre a doçura do dolce far niente (a arte de não fazer nada), come, come, come e come, faz amigos e chora (muito). Itália devolveu a Elizabeth o sentimento de prazer, através da comida, dando-lhe a primeira palavra do título do seu livro “Comer”.
A segunda palavra, “Orar”, vem da sua viagem à Índia. Depois do seu divórcio, Elizabeth encontra a sua fé na meditação e numa variante do Yoga, pelo que decide que parte da sua viagem deveria ser focada em encontrar e estabelecer uma melhor relação com Deus*, ficando hospedado num Ashram, dedicado à sua guru.
Os últimos quatro meses da viagem são passados em Bali (Indonésia). Entre passar tempo com um curandeiro que a ensina uma nova forma de meditar e conseguir angariar dinheiro para comprar uma casa para uma mãe e filha balinesas, Elizabeth encontra novamente o amor. E assim completamos o nosso título com a palavra “Amar”.
Pontos fortes: uma história verdadeira; escrita próxima e simples; boa separação das três viagens e do que a Elizabeth aprende em cada uma.
Pontes fracos: muitas reflexões pessoais; pouco relacionável (relatable era a palavra que queria mesmo usar).
Pontuação final: 3,5/5
Livro vs filme: livro
*Deus surge aqui como sinónimo de entidade superior. Não como a figura católica, a que normalmente a palavra é associada em Portugal.
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